Ser autentico é fundamental, mas nem sempre nos damos bem com isso

janeiro 20, 2019


Há uns tempos, numa festa de amigos, conheci a Cláudia. Quando nos conhecemos a Cláudia tinha 38 anos e trabalhava numa empresa muito tradicional. Ela estava desconfortável com a situação em que se encontrava e, sabendo o que eu fazia profissionalmente, pediu-me uma ajuda para a orientar com a sua situação profissional.


A empresa onde Cláudia trabalhava tem muitos anos de história. São os donos que gerem a empresa, já lá estão há muitos anos e fazem questão de manter as tradições como sempre foram.
Nesta empresa, os homens ainda vestem fato todos os dias e as mulheres ainda têm uma apresentação muito cuidada. As pessoas ainda se tratam por engenheiros e doutores. A distância e as formalidades é enorme entre todos os colaboradores.


A Cláudia desde o dia em que entrou sentiu-se assustada com estas formalidades. Ela sempre acreditou que ser genuína era uma virtude, que ter um lado humano no trabalho é uma vantagem, que fazer dos colegas amigos faz o dia de trabalho muito mais agradável.
Ela foi contratada para gerir uma equipa de 15 pessoas e quando entrou, rapidamente os conheceu a todos, aproximou-se deles com grande naturalidade, tratou-os de igual para igual e tudo começou a correr bem internamente. A equipa apresentava ótimos resultados, respondia a todas as solicitações e sempre disponível para resolver os problemas da empresa, mesmo os que não eram da responsabilidade da equipa. O bom trabalho era visível para todos embora, para muitos, fosse difícil admiti-lo.


Relativamente aos outros colegas a Cláudia tentou rapidamente aproximar-se de forma desinteressada, Saber quem eram, o que faziam, o que gostavam, se tinham família, há quantos anos estavam na empresa, que opinião tinham sobre o negócio. Ela sempre pensou que passava a maior parte do tempo que está acordada no emprego, por isso, o ambiente de trabalho teria que ser agradável.


Se com a equipa dela esta aproximação correu muito bem e trouxe muitos bons resultados, pelo menos na visão dela, a aproximação aos colegas não foi tão bem recebida. Começaram a olhar para ela de lado, respondiam de forma evasiva às perguntas. Não lhe deram grande oportunidade de partilhar intimidades.
A Cláudia percebeu que a sua aproximação não era bem vinda e por isso não insistiu mais.


Cláudia tinha entrado para gerir uma área da empresa, mas também para fazer parte de um grupo de diretores que se reuniam mensalmente para discutir os futuro da empresa e pensar os projetos estratégicos da empresa. Na primeira reunião em que esteve presente, a Cláudia estava super entusiasmada com a ideia de poder participar no futuro da empresa, com a ideia de que podia ouvir a visão de todos os outros diretores e administradores para, todos juntos, construírem o melhor futuro para a empresa.


Mas rapidamente percebeu que estava enganada. Essa não era a dinâmica da empresa. Todos os diretores estavam calados a ouvir a administração com as suas opiniões. Quando algum diretor pedia a palavra era apenas para enaltecer o brilhantismo das ideias dos administradores. A Cláudia ainda tentou, por duas ou três vezes, ter intervenções construtivas, mostrar outros pontos de vista, fazer perguntas para os fazer pensar, mas foi totalmente ignorada e até olhada com muita estranheza pelos colegas.


Rapidamente começou a ser excluída destas reuniões. Foi chamada várias vezes a atenção pelo diretor de recursos humanos sobre a forma diferente que estava se estava a comportar e que não estava de acordo com os princípios da empresa. Um dia, quando passava no corredor da administração, ouviu de forma inadvertida, uma conversa entre administradores, em que um administrador criticava veementemente o seu comportamento.


Ela não conseguia perceber como, uma empresa aparentemente tão inovadora e com tanto sucesso poderia ser tão tradicional na forma como geria os seus recursos humanos.
Lutou durante alguns meses para fazê-los ver que havia formas diferentes, formas cujos atuais gurus de recursos humanos defendem trazer muito melhores resultados.


Quando a conheci e comecei a trabalhar com ela, percebi que era uma questão de tempo. Nem a Cláudia estava errada, nem a empresa estava errada. Eram formas de pensar diferentes, eram culturas muito díspares que, dificilmente, iriam encontrar os seus pontos de junção.


Assim foi, um dia a Cláudia decidiu que não conseguia mudar a cultura da empresa e que a sua convicção no que estava a fazer era muito forte, por isso, só havia uma coisa a fazer pensar noutra alternativa.
Para Cláudia foi difícil tomar esta decisão porque ela adorava a equipa dela, tinha uma relação muito forte com a marca que representava e tinha muitos projetos para o futuro da empresa que pensava iriam resultar em grande sucesso.
Mas não deu mais.


A mudança foi muito rápida e simples. Com as qualidades profissionais que a Cláudia tinha, com os testemunhos que reuniu da sua equipa e com os resultados que tinha conseguido obter no tempo que esteve na empresa, conseguiu rapidamente uma alternativa numa empresa maior e de grande sucesso.
A empresa nova tinha uma mentalidade mais atual, uma gestão mais participativa e estava totalmente preparada para a genuinidade da Cláudia.


Aquilo que costumo dizer a todos os meus clientes é que na gestão de uma empresa não há certos nem errados. Quando contratamos alguém, ou quando nos candidatamos a uma empresa, o primeiro ponto a avaliar é se a forma de ser da pessoa está de acordo com os valores da empresa. Se a forma de ele se comportar está de acordo com os princípios pelos quais a empresa se rege e como os outros colaboradores existentes se comportam.


No entanto, quando acompanho os executivos de empresas, também os alerto que estar numa empresa implica sempre ter uma boa capacidade de adaptação e  “engolir alguns sapos”. No entanto é minha convicção que eles se devem manter autênticos com as suas equipas e com os seus colegas, devem defender aquilo em que acreditam, devem agir em conformidade com os seus valores, pois de outra forma não vão conseguir se sentir bem na empresa e vão perder a sua consistência.

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