O efeito Disneyland

janeiro 24, 2019


No outro dia, numa entrevista que vi na internet a Roberta Matuson, autora de vários livros na área de liderança como The Magnetic Leader, ouvi um exemplo muito interessante que ela deu, aplicando às melhores ideias sobre gestão e sobre liderança. Partilho a ideia convosco pois penso ser relevante para todos as pessoas, em particular para aqueles que tomam decisões em empresas.


Pensem na Disneyland ou noutro parque temático semelhante. Quando entramos no parque temos normalmente dois corredores à frente: um pela direita e outro pela esquerda. Está provado estatisticamente que a grande maioria das pessoas segue pelo corredor da direita e os parques já estão desenhados dessa forma. Nós, mesmo que não tivéssemos a inclinação para escolher a direita, entrando num sítio que desconhecemos, seguimos instintivamente a maioria e, por isso, lá vamos nós pelo caminho da direita.
Neste tipo de parques, a maioria das pessoas chegam ao início do dia, mesmo ao abrir do parque, e só saem ao final, quando o parque está mesmo a fechar. Querem garantir que aproveitam ao máximo todos os euros que a entrada custou e, por isso, a concentração de pessoas durante todo o dia é enorme.
Se já foram a um parque deste gênero, sabem que todas as atrações têm filas intermináveis, que temos que estar muitas vezes mais de uma hora para conseguir andar naquela montanha russa que mais gostamos. E nós seguimos sempre a multidão. Aliás, quando passamos em algum divertimento que não tem fila imediatamente pensamos: “Este não deve ser bom, não tem ninguém…”. A probabilidade de seguirmos em frente, sem lhe darmos atenção, é grande.


Agora imaginem que entram na parque temático e seguem pelo caminho que os outros não estão a seguir. Que começam logo pelo corredor da esquerda. O que vos parece que vai acontecer?
Pois é, vão ter oportunidade de passar em todos os divertimentos também, de usufruir das mesmas possibilidades mas num horário diferente da multidão. Enquanto vocês estão nos divertimentos do lado esquerdo, a maioria das pessoas estará nas filas do lado direito. Ao seguirem uma alternativa diferente aumentam, neste caso, a probabilidade de diminuir substancialmente os vossos tempos de espera, os vossos desperdícios, a rentabilidade do vosso tempo.


E na vida em geral, será que agirmos sempre como carneirinhos é a melhor opção? Irmos atrás dos outros, sem pensar, é a melhor alternativa?


Esta é uma resposta muito difícil pois, na maior parte dos casos, a roda já foi realmente inventada e o facto de perdermos tempo a tentar reinventá-la, cada vez que a vamos utilizar, não nos trará bons resultados. Faz-nos perder tempo desnecessariamente. Faz-nos perder energia e foco para aquilo que é mais importante.


Quando vemos uma multidão a correr, e percebemos que está a fugir de algo, o melhor é corrermos primeiro e perguntarmos depois o que está a acontecer, não vá ser algum perigo que nos possa realmente pôr em perigo. Isso pode mesmo salvar-nos a vida.


No entanto, e conforme o exemplo do parque temático nos ilustra, às vezes pensarmos pela nossa cabeça, sermos aventureiros, tentarmos fazer diferente também nos poderá trazer bons resultados. Encontrar este balanço, os momentos certos para agir de forma diferente não é simples. Mas a vida de um gestor ou de um líder não é fácil. Se fosse fácil gerir empresas, não havia razão nenhuma para termos uma taxa de insucesso tão elevada.


Para mim é claro que, no mundo dos negócios, não podemos ser apenas iguais aos outros. Temos que encontrar o que os outros fazem muito bem e fazer, pelo menos igual, e encontrar onde podemos fazer melhor (em pontos que os clientes realmente valorizam) e batalhar para sermos os melhores nesses pontos chave. Nesses pontos temos que mesmo que fazer a diferença.


Para isso é fundamental conhecer o que se faz de melhor na nossa indústria, estar sempre atualizado relativamente ao mercado onde estamos inseridos, perceber quais as características que os nossos clientes realmente valorizam, e estar sempre muito alerta para poder inovar nos pontos que são as nossas maiores forças.


Hoje olho para as indústrias mais competitivas do nosso país, em alguns casos até no mundo, e vê-se muitas empresas a copiarem-se umas às outras, tanto a nível de produtos, como de comunicação e preço.
Eu compreendo que é uma forma fácil, é uma forma que nos obriga pouco a pensar e que minimiza os riscos. Mas, na minha opinião, se eu tenho confiança nas minhas capacidades de ir mais além, eu tenho que assumir o risco. Uma ressalva importante é não pôr em causa a sustentabilidade da empresa quando se corre esses riscos. É fundamental ter os pés na terra e não dar passos arriscados que ponham em causa a consistência da empresa.


Acima de tudo têm que estar preparados para, em qualquer altura, não tomar as decisões só porque os outros as estão a tomar. Têm que ser críticos, têm que pensar pelas vossas cabeças, têm  que assumir que as escolhas são vossas.
Todas as escolhas têm consequência. O mais importante é tomarmos as escolhas em consciência para conseguirmos perceber as vantagens e as desvantagens de cada alternativa, e antevermos os potenciais desafios para nos prepararmos melhor para eles.


Assumir uma escolha diferente é um ato de coragem, mas se resultar também nos dá a oportunidade de encontrar um nicho em que estamos sozinhos, em que não temos fila para entrar. E esse pode ser o fator disruptivo que nos permite sair dos crescimentos incrementais para os crescimentos exponenciais.


Andarmos onde os outros andam obriga-nos a estar duplamente ativos. A ter o dobro das preocupações, a estar muito mais alerta. Se encontrarmos o nosso oceano azul, podemos respirar fundo, aproveitar ao máximo e tirarmos o maior partido disso (pelo menos enquanto os outros não nos imitarem).


Claro que é importante, mesmo quando encontramos a nossa diferenciação mantermos os nossos níveis de atenção, pois é fundamental mantermos a nossa vantagem de termos sido os primeiros continuamente, ou seja, não podemos adormecer e deixar que os outros nos apanhem e, muito menos, nos ultrapassem.


A conclusão que gostaria de vos deixar hoje é que pensem sempre pelas vossas cabeças. Que não entrem no efeito carneirinho, só porque sim. Pensei sempre, avaliem todas as alternativas e tirem as vossas conclusões de forma consciente.

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