Encontra o teu propósito

janeiro 10, 2019


Há uns tempos trabalhei com uma executiva de topo, de uma multinacional de grande dimensão. Por uma questão de não quebrar a confidencialidade do processo de executive coaching, vou chamar-lhe Catarina.


A Catarina era uma mulher de 45 anos, com 2 filhos. Um rapaz de 11 anos e uma rapariga de 15. Casada com um marido bem sucedido. Empresário e aventureiro.
Ela estava naquela empresa há mais de 10 anos. Tinha entrada como controller senior, mas com a sua dedicação e trabalho tinha subido a diretora da área e há cerca de um ano tinha sido convidada para fazer parte da administração em Portugal.
Era uma mulher alta, loura, bonita e sempre super bem arranjada. Felizmente a saúde também nunca tinha faltado. Viviam numa moradia em Cascais.
Tudo parecia retirado de um conto de fadas.


Durante o processo entrevistei também alguns amigos que me descreveram a Catarina como uma pessoa sociável, uma profissional bem sucedida, uma esposa exemplar e uma super mãe.
Entrevistei alguns colegas e membros da sua equipa, que me descreveram a Catarina como uma profissional de mão cheia, um pouco reservada no trabalho, mas muito leal com a sua equipa, disponível sempre para dar a quem precisa de ajuda, boa colega, muito competente e muito dedicada.


Quem me contratou foi o diretor de recursos humanos da empresa pois, apesar de não detetar nenhum problema de performance no trabalho da Catarina, começou a notar alguns comportamentos menos positivos. Algumas situações em que a Catarina começava a revelar alguma revolta, algo que era completamente contrário aos comportamentos esperados da Catarina, tendo como base 10 anos de histórico na empresa.


Num processo de coaching para executivos, as primeiras sessões são quase sempre de grande formalidade. As pessoas olham sempre para o coach com alguma desconfiança, pois tendo sido, na maior parte dos casos contratados pela empresa, os executivos sentem-se sobre avaliação e não percebem o objetivo. Pensam sempre que não têm nenhum problema para resolver.


Mas com Catarina foi diferente. Ela recebeu-me muito bem, colocou-me muito à vontade e contou-me rapidamente como tinha uma vida maravilhosa, como tinha uma vida tão completa e como era fantástico ser uma grande executiva, uma grande mãe, uma grande esposa, uma grande dona de casa…


Foram precisas apenas 3 sessões para Catarina me começar a revelar que a vida não era tão maravilhosa. Que ela sentia uma pressão enorme para manter aquela fachada de mulher perfeita.
Ela adorava os filhos, o marido, o trabalho, a casa, os amigos… mas ela era apenas uma, com as suas fragilidades, com os seus medos, com as suas inseguranças.


Cada vez que tentava falar com uma amiga sobre os seus problemas ouvia sempre: “tu não te queixes, tu tens uma vida fantástica, um marido maravilhoso, és muito bem sucedida profissionalmente, uns filhos super educados, bons alunos, tens uma casa linda… estás a queixar-te do quê?”. Tanto ouviu estas frases que teve que reprimir as suas queixas e as suas dores.


A pressão para apresentar resultados na empresa era enorme e, quando tinha de sair mais cedo para ir buscar os filhos à escola, acabava por ficar com eles, deitá-los e depois ir trabalhar a seguir até à um ou duas da manhã. Muito dias não conseguindo ter nem 6 horas de descanso que tão importantes eram para a sua saúde, e no dia a seguir lá tinha que acordar os filhotes a horas, arrumar a casa, ter tudo limpo e ir muito bem arranjadinha para se apresentar às 9h00 no trabalho para mais um dia intenso.


Quando o marido tinha os seus jantares de negócios, com empresários importante nacionais e internacionais, Catarina ainda tinha de estar ao seu lado, com a sua boa disposição e linda. Na verdade, na maior parte dos casos, o que lhe apetecia era estar deitada no sofá a descansar de um dia de trabalho muito intenso.


Estava à beira de esgotamento, com tanta dedicação aos outros e ao cumprimentos de uns sonhos que não eram dela. Para manter uma fachada que nada significava para ela.


O processo de executive coaching foi longo, mas muito compensador e revelador para mim e para ela.


Começámos por identificar o que era realmente importante para Catarina, onde ela se sentia bem e o que a fazia realmente feliz. A Catarina começou a interiorizar que a vida era dela e que ela é que tinha que decidir o que era realmente importante e onde ela queria deixar a sua energia.


Rapidamente contratou uma pessoa para lhe tratar da casa e das refeições, o que já lhe aliviou bastante o tempo. Começou a olhar para o tempo como o bem mais precioso e a organizá-lo de acordo com as suas prioridades (e não com as prioridades de todos os outros como fazia até à data).


Aprendeu a dizer  não. Aprendeu a ser sincera com os outros. Deixou cair a fachada de executiva perfeita. Revelou a todos que era apenas uma mulher, com muitas capacidades técnicas, com capacidades de liderança bastante acima da média, mas que também tinha fragilidades, medos e insegurança. Era capaz de fazer um óptimo trabalho, mas precisava da ajuda dos outros.


Passado um ano e meio, quando demos o processo por terminado, voltei a entrevistar os colegas de trabalho e amigos. A avaliação foi unânime, a Catarina tinha sofrido uma grande alteração, mas muito positiva. Sentiram que ela era agora mais feliz, mais genuína, mais divertida.
Principalmente no trabalho, onde tinha sido sempre bastante reservada, estava totalmente aberta, falava diariamente com toda a equipa de uma forma descontraída e leve. Todos se sentiam muito bem com ela. Continuava a ser uma óptima profissional, mas muito mais inspiradora. Tinham encontrado o lado humano da Catarina que era excepcional.


É muito importante procurarmos aquilo que é importante para nós pois só assim conseguiremos ser felizes. Muitas vezes, ao sofrermos pressões externas acabamos por ser algo que não está alinhado com aquilo que queremos, totalmente desalinhado com aquilo que é o nosso propósito de vida.
Isso desgasta-nos e tranforma-nos em pessoas tristes, cansadas.


Encontra o teu propósito e vive alinhado com ele. Estabelece o que é importante para ti e corre atrás. Só assim serás feliz!

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