Da minha experiência, nem todos. Aliás, para ser mais precisa, nem sequer a maioria está disponível para aprender. 

Nos últimos anos, fruto do meu trabalho junto da empresa Paulo de Vilhena, tenho acompanhado o Paulo em muitas formação e também eu, nas equipas dos meus clientes de coaching, tenho dado algumas formações. Aquilo que tenho visto é que, quando as formações são oferecidas pelos patrões, a maioria das pessoas está totalmente indisponível para aprender, distraídas, aborrecidas, contrariadas, em posições defensivas.

Na maioria destas formações que são organizadas dentro das empresas as pessoas assumem uma postura de frete, de alguém que vem ouvir um monte de coisas que, ou já sabem, ou não interessam para nada. Estão durante o tempo da formação preocupados em confirmar aquilo que já fazem e discordar daquilo que não fazem.

Mas será que assim aprendemos alguma coisa?

Claro que não. 

O objetivo de uma formação é exatamente ouvir alguém que faz as coisas de uma forma diferente, que tem ideias alternativas às minhas, que apresenta pensamentos inovadores face aos meus. 

É óbvio que não temos que guardar tudo, mas pelo menos, devemos questionar se as nossas opiniões sobre aqueles assuntos estão corretas, avaliando de forma séria os dois pontos de vista. 

Devemos pensar profundamente sobre o que estamos a ouvir e interiorizar tudo aquilo que fizer sentido para nós.

Na minha opinião é um problema de humildade. As pessoas não conseguem assumir que não sabem e têm receio de ficar mal vistas por não saberem tudo.

Mas haverá alguém que sabe tudo?

Eu trabalho com muitos empresários e alguns têm muito mais experiência profissional do que eu e, obviamente, do ramo de actividade em que operam sabem os detalhes todos que eu não domino por dentro. 

Quando trabalhamos juntos eu, tenho a certeza, acrescento valor não pelos detalhes que desconheço, mas pelas metodologias que aplico em todos os negócios (e que está provado funcionarem pelas experiências anteriores), pela sistematização que conseguimos fazer mas, acima de tudo, por obrigá-los a pensar fora da caixa, por obrigá-los a encontrar outras alternativas, por obrigá-los a olhar para os negócios deles por prismas diferentes. Isso é aprender!

Mas será que são só os funcionários com menos habilitações que pensam assim?

Infelizmente não.

No outro dia um empresário, de uma empresa portuguesa de média dimensão, disse-me: "você tem metade da minha idade, metade da minha experiência profissional, como é que pode pensar que tem alguma coisa para me ensinar?".

Eu percebo o ponto de vista e até concordo, pois se aquela pessoa não está preparada para questionar os seus conhecimentos passados, e a sua experiência adquirida, provavelmente não irá aprender nada comigo. 

Não estou com isto a dizer que se deite tudo fora, que a experiência passada não traga valor. Mas, para mim, tudo está em movimento e em evolução. Aquilo que foi verdade há uns anos, poderá já não ser verdade hoje. E aprender é pôr em causa aquilo que sabemos, pensar novamente de uma forma séria sobre o assunto e tirar as nossas conclusões.

Posso partilhar, com muito orgulho, que as duas pessoas que mais me ensinaram sobre a vida foram, e continuam a ser, os meus filhos. Eles obrigam-me, todos os dias, a sair da minha zona de conforto, a procurar alternativas, a ver o mundo de forma diferente. 

As crianças, pela sua simplicidade de pensamento, fazem-nos questionar totalmente as nossas ideias, a nossa forma de viver, as nossas prioridades. Dão-nos grandes lições de negociação, persuasão, liderança e gestão do tempo.

Mas, para isso, temos que estar disponíveis para aprender. Temos que ter a humildade de assumir que não sabemos tudo e que, às vezes, estamos enganados. Em qualquer momento, de qualquer pessoa, pode vir um ensinamento para a vida.